Samuel Macedo: outras perspectivas sobre a infância brasileira

por Talyta Magano
Rejane Moreira, coordenadora do NECOM, e o
fotógrafo Samuel Macedo
Foto de Talyta Magano

Natural do Ceará, o fotógrafo Samuel Macedo foi o primeiro convidado a participar da Roda de Saberes, realizada pelo Núcleo de Estudos em Comunicação (NECOM), dia 11, no P1. A professora Rejane Moreira, do curso de Jornalismo, e coordenadora do NECOM, apresentou o evento aos alunos e se mostrou animada com o Núcleo. Para ela, este é um projeto audacioso que busca trazer um olhar muito pessoal dentro do universo da Comunicação. O objetivo é fazer encontros para estudar as perspectivas deste universo a partir de diversos trabalhos desenvolvidos na área.

Samuel Macedo voltou sua conversa para seu trabalho mais atual, o Projeto infâncias: Incursão pelas paisagens infantis brasileiras. Em parceria com a Fundação Casa Grande, o fotógrafo viaja há dois anos, juntamente com duas jornalistas, pelo Brasil, para fotografar as rotinas das crianças. A ideia é ir a todos os estados brasileiros. Até agora, o grupo chegou a todas as regiões do País, como Xingu, Cariri e interior do estado de Minas, mas ainda faltam muitos lugares para registrar.  
O fotógrafo explica que as brincadeiras são basicamente iguais, o que varia de um lugar para outro são os costumes. A intenção do projeto é apresentar essas variações por meio de imagens que representem as paisagens a partir das brincadeiras infantis.
– Quando você deixa de ser criança, parece que o mundo infantil fica invisível. Eu mesmo tive essa sensação. Quando fomos fotografar a cidade onde nasci, disse aos colegas que lá os meninos não brincam mais disso ou daquilo, como se não existissem mais aquelas brincadeiras de quando eu era criança. Mas quando chegamos, percebi que continua tudo exatamente igual.


Outra percepção surgida durante as viagens é a constatação de que na infância o ser humano respeita mais a natureza. Ele destaca que observa isso desde o interior até o Pantanal, onde as crianças usam a natureza para fabricar seus próprios brinquedos.
Para chegar a alguns locais, como Xingu, a equipe já levou até três dias de barco. Depois de se apresentarem nos lugares onde chegam, Macedo afirma que sempre é necessária uma aproximação com a comunidade antes de começar a fotografar. Segundo ele, isso é fundamental para as pessoas confiarem no grupo enquanto estiverem por ali. Além disso, ele diz tentar se distanciar o máximo possível na hora de fotografar. 
Foto de Talyta Magano

– Eu procuro, principalmente com as comunidades indígenas, manter um distanciamento, pois vejo que as coisas funcionam melhor assim. Prefiro ficar acompanhando o dia-a-dia para saber a melhor forma de agir. Existe um ‘campo magnético’ nas pessoas que pode ser violado com a aproximação de uma câmera ou um gravador. Já cheguei a ficar dois dias sem pegar a câmera, só caminhando e observando para me enturmar, antes de sair clicando. 

A experiência mais interessante para Samuel até agora foi a recente passagem pelo interior de Minas. Ele conta que visitou uma comunidade quilombola com uma ordem judicial para desocupar a terra, onde estão há anos, em até 30 dias. O mais interessante, segundo o fotógrafo, é que apesar de tudo, as pessoas continuam tranquilas e alegres. Outra situação difícil que ele destaca foi quando fotografou uma das aldeias que serão mais afetadas pela construção da barragem, no Rio Bacajás. 
No trabalho de campo, Macedo conta com dois corpos de câmeras, diversas lentes e outros equipamentos, como tripé.
Para finalizar a roda, Samuel Macedo afirma que seu objetivo é fazer uma imagem para além da própria imagem. A busca não é pela foto mais bonita, mas sim por uma que ‘entre’ na imagem. O projeto, futuramente, também fotografará as crianças urbanas.
E, fique esperto, apesar de não ter data confirmada ainda, a próxima Roda de Saberes terá a participação do antropólogo Maurício Barros.

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